BALAIO DO KOTSCHO: FHC NÃO ESCONDE: PSDB PREFERE ENFRENTAR BOLSONARO DO QUE PT
Em entrevista de página inteira na Folha deste domingo (02/set/2018), o ex-presidente prevê que “disputa entre PSDB e PT será para ir ao segundo turno”.
BALAIO DO KOTSCHO - COLUNAS, por Ricardo Kotscho em 02/set/2018
Foi a forma que encontrou para dizer que seu partido prefere não enfrentar novamente o PT na disputa final.
Não é para menos: nas últimas quatro eleições presidenciais, o PSDB perdeu as quatro para o PT, duas vezes com José Serra, uma com Aécio Neves e outra com Geraldo Alckmin, que é candidato de novo.
FHC nunca diz as coisas muito claramente, mas lendo e relendo a entrevista a Thaís Bileny, dá para recolher nas entrelinhas o pensamento do sociólogo que virou presidente.
Vejam que sutiliza na resposta de uma palavra só:
Folha _ O sr. já disse que não espera 2º turno entre PT e a direita, seja Alckmin, seja Bolsonaro. Aposta que pode vir a ser Bolsonaro e Alckmin.
FHC _ Isso.
Esse, não por acaso, é também o sonho do mercado financeiro, que sempre apoiou o PSDB, mas está se encantando também com o ex-capitão Jair Bolsonaro, e agora aceita qualquer um, desde que não seja o candidato do PT ou Ciro Gomes.
Em outro trecho, FHC afirma que “os partidos não são expressivos e, os que são, vêm de setores que têm mudanças”, quando é interrompido pela repórter e responde com um raciocínio meio tortuoso para justificar sua tese
Folha _ O PT tem simpatia crescente, chegou a 24%.
FHC _ Mas onde cresceu? Não foi entre os trabalhadores, foi geral. A ligação de classe com o partido deixou de contar. Tem mais força no Nordeste, porque Lula representa uma espécie de Padim Ciço. Os outros partidos nunca tiveram muita expressão.
Como assim? E o seu partido, o PSDB, não tem expressão, não tem lideranças?
Folha _ Aliados advogam que Alckmin deve esconder o PSDB.
FHC _ Não deve, vai ser denunciado pelos outros. O PSDB não está no governo, este é o PMDB (na verdade, o partido de Michel Temer, que não é citado nenhuma vez na entrevista, voltou a se chamar MDB).
Folha _ Aloysio Nunes (PMDB-SP) está no governo e o PSDB esteve após o impeachment.
Pego na contra-mão, o ex-presidente joga com a ignorância e a falta de memória do eleitorado para salvar a pele do seu partido:
FHC _ O povo não sabe, não se liga nisso. Uma coisa somos nós, intelectuais, jornalistas. Para o povo, tem que mostrar quem é o Geraldo.
Coerência nunca foi o forte de FHC e todo mundo sabe que “o Geraldo” nunca foi seu candidato preferido.
Depois de dizer que o PT tem mais força no Nordeste porque Lula virou o Padim Ciço, na mesma entrevista ele diz que o PSDB tem que se concentrar onde sempre teve mais votos (de São Paulo para o sul) e pergunta à repórter, respondendo em seguida:
FHC _ Aí tem que brigar com quem? Bolsonaro.
Folha _ Tem espaço para os dois?
FHC _ Pode ter. A mesma dificuldade do PSDB, o PT tem também, de entrar no Rio, no Nordeste, porque é paulista.
Outra vez, cabe perguntar: como assim? O PT com dificuldades de entrar no Rio e no Nordeste, onde venceu todas as últimas eleições, de onde FHC tirou isso?
FHC se esqueceu também que nas últimas pesquisas Geraldo Alckmin perde para Lula e Bolsonaro mesmo em São Paulo, onde o PT sempre ficou atrás nas eleições para presidente.
Já no final, perguntado sobre uma possível aliança do PSDB com o PT, para enfrentar Bolsonaro no segundo turno, FHC desconversa.
Folha _ Se passar Bolsonaro para o segundo turno, PSDB se une ao PT?
FHC _ O PT sempre se caracterizou por definir o inimigo, o PSDB. Não por razões ideológicas, mas eleitorais. Não vai aceitar ninguém.
Me deu a impressão de que, apesar da experiência de oito anos de governo, e todos os seus estudos acadêmicos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, assim como a maioria do eleitorado brasileiro, parece perdido nesta campanha eleitoral, sem entender direito o que está acontecendo.
E, mais uma vez, deixou claro que não bota muita fé no Geraldo. Só não quer perder de novo para o PT.
Bom domingo.
E vida que segue.
__________________________________________________________
Acesse, curta e recomende o JORNAL DO NASSIF